Uma jornada desprovida de triunfos dos três 'grandes' é algo verdadeiramente incomum. É lógico que não se pede que, à 2. jornada, o futebol praticado tenha a qualidade que se exige aí com mais um mês de competição em cima, mas há um mínimo de qualidade e de constância que, principalmente, quem joga para o título deve produzir.
Sendo certo que nenhum dos candidatos ao título venceu nesta jornada (FC Porto e Sporting empataram na única grande falha que os seus defesas cometeram e, por sua vez, com várias ocasiões de golo perdidas), houve um cujo futebol praticado meteu verdadeiro dó e esse foi o da única equipa que perdeu: a do Benfica.
O triunfo por 4-0 ao Estoril trouxe a ilusão de que, conforme indicara Rui Vitória na conferência de imprensa que antecedera esse encontro, a equipa começava a "entrar nos eixos", mesmo que somente durante 15 minutos e só depois de o técnico visitante, Fabiano Soares, ter mexido muito mal nas suas peças.
E, no entanto, foram precisamente esses 15 minutos os únicos que se aproveitaram nos 180 mais descontos das duas jornadas agora concluídas.
Tirando aquele quarto-de-hora em que tudo correu bem, o futebol do Benfica tem sido desconexo. Nas ligações entre sectores e dentro dos próprios sectores.
Mais do que saída de Maxi Pereira ou a lesão de Salvio, o futebol do Benfica ressente-se mais pela falta de um avançado com a mobilidade e disponibilidade que Lima trazia ao jogo ofensivo do conjunto. O brasileiro percorria toda a frente de ataque na procura da bola e sabia sempre, depois, onde encontrar Jonas (tal como já o fizera com Rodrigo). E os dois sabiam, depois, contemporizar até às subidas dos alas e até dos laterais.
Agora, tem sido Jonas, alguém sem a mesma disponibilidade física de Lima, a ter de fazer a mesma função para Konstantinos Mitroglou e, eventualmente, para Raúl Jiménez. E estes apenas parecem mexer-se quando a bola passa por perto.
Sem Lima, a pressão alta e sufocante acabou e as equipas adversárias passaram a poder construir os seus ataques a bel-prazer. E isto porque, sem dois avançados pressionantes, dois médios-centro atrás passam a ser poucos para as batalhas do meio-campo quando não têm a posse da bola.
E, sendo eles insuficientes (para mais se os médios-ala não ajudarem ora a fechar ao meio, ora no apoio aos laterais), os adversários atacam pelo caminho mais curto: pelo centro.
Obviamente, um dos centrais tem que subir na tentativa de ajudar a recuperar a bola mais à frente e acaba por desequilibrar a equipa no seu posicionamento, principalmente o da defesa. Aí, ora se explora o espaço momentaneamente desocupado pelo central ou se aposta em carregar o lateral que, entretanto, fora compensar ao centro. E é de onde os cruzamentos mais perigosos têm partido. E, ao meio, o entendimento entre Luisão, Lisandro López e o médio mais recuado (Fejsa ou Samaris) dista anos-luz da perfeição.
A falta de avançados e médios pressionantes traz todos os problemas de posicionamento já mencionados, que acabam por sobrar, depois, para Júlio César.
Não fosse este tratar-se de um guarda-redes de categoria mundial e a atravessar um excelente momento de forma e o Benfica estaria, não a dois, mas a seis pontos do líder Arouca, seu carrasco desta noite, dadas as defesas feitas, também, com o Estoril. E só estranharia quem não tivesse visto os encontros das duas primeiras jornadas.
Só se trata de um problema de jogadores se os avançados tiverem sido mal escolhidos para o 4-4-2 (ou 4-2-4) que vigoraram no consulado de Jorge Jesus. Não pressionando os dois (mesmo que um mais do que outro), os adeptos benfoquistas podem dizer adeus, depois, ao futebol de mobilidade e de vertigem ofensiva.
E não é um problema de jogadores apropriados para determinada táctica, porque paira a sensação de que, passadas duas jornadas e três jogos oficiais, Rui Vitória ainda nem tem bem uma ideia quanto ao modelo de jogo a apresentar.
Apenas se sabe que, quando se encontra a perder (como aconteceu frente ao Sporting e, esta noite, com o Arouca, "coloca a carne toda no assador".
A questão é que as "brasas" não chegam à "carne". Pura e simplesmente porque o "assador" foi, entretanto, apagado por outro comensal (o adversário). Ou não aqueceu o suficiente na preparação ou, pior ainda, nem sequer trabalhou.